A Kuku, plataforma indiana de histórias em áudio e vídeo, levantou US$ 85 milhões em uma rodada Série C liderada pelo fundo Granite Asia (antiga GGV Capital). O aporte avalia a empresa em cerca de US$ 500 milhões, mais que o dobro da avaliação anterior, segundo confirmou o fundador e CEO Lal Chand Bisu.
Participaram também do investimento Vertex Growth Fund, Krafton, IFC, Paramark, Tribe Capital India e Bitkraft. A rodada incluiu operações secundárias que permitiram a saída parcial de investidores iniciais; o Google, que detinha menos de 2% da companhia, vendeu toda a sua participação.
Aceleração do consumo digital
A Índia conta com mais de um bilhão de usuários de internet e cerca de 700 milhões de smartphones, cenário impulsionado por pacotes de dados baratos e pagamentos digitais facilitados pelo sistema UPI. De acordo com relatório da EY, o segmento de mídia digital superou a televisão em 2024, respondendo por 32% da receita total do setor, equivalente a 802 bilhões de rúpias (aproximadamente US$ 9,13 bilhões). A projeção é de crescimento anual composto de 11,2% até 2027.
Expansão de produtos e público
Fundada em 2018, a Kuku começou com audiolivros no aplicativo Kuku FM e hoje opera também o Kuku TV, que exibe histórias em episódios curtos no formato vertical. Juntas, as plataformas oferecem conteúdo em mais de oito idiomas indianos e superaram 10 milhões de assinantes pagos — avanço expressivo em relação aos 2 milhões registrados em 2023.
A empresa informa ter duplicado a receita média por usuário e multiplicado o faturamento total por dez desde a última captação. Cerca de 80% dos assinantes vivem fora dos grandes centros urbanos; 60% são homens, 40% mulheres, e a maioria tem entre 25 e 35 anos.
Os planos custam 199 rúpias (cerca de US$ 2) ao mês, 499 rúpias (US$ 6) por trimestre e 1.499 rúpias (US$ 17) por ano, sendo o trimestral o mais procurado. Segundo Bisu, os usuários passam em média 100 minutos diários nos aplicativos, e mais de 90% permanecem ativos mês a mês.
Base de criadores e uso de IA
Hoje, cerca de 10 mil criadores — mais da metade de cidades pequenas — produzem conteúdo para a Kuku. A companhia afirma pagar aproximadamente 400 milhões de rúpias (US$ 4,5 milhões) por mês a esses parceiros.
Para agilizar a produção, a startup desenvolveu um estúdio de inteligência artificial generativa que usa soluções da OpenAI, ElevenLabs e ferramentas próprias. Os recursos auxiliam na criação de títulos, roteiros, diálogos e miniaturas, embora a gravação de áudio e vídeo siga manual. Bisu estima que 70% a 80% do trabalho já seja apoiado por IA.

Imagem: Internet
Números de mercado
Dados da Appfigures apontam que os aplicativos da Kuku somaram mais de 229 milhões de downloads até setembro — 122 milhões do Kuku FM e 88 milhões do Kuku TV — e geraram mais de US$ 4 milhões em gastos dos consumidores (US$ 2,8 milhões via Kuku FM e US$ 1,3 milhão via Kuku TV). Apenas em 2025, foram 134 milhões de downloads, crescimento anual de 533%, e US$ 1,9 milhão em gastos, alta de 156%.
Em termos de uso, o Kuku TV representa mais de 60% do consumo total da companhia.
Concorrência e disputas judiciais
O principal concorrente local é o Pocket FM, que ajuizou diversos processos de violação de direitos autorais contra a Kuku; a Corte de Délhi chegou a impedir a publicação de novos episódios de cinco obras contestadas. Bisu afirma que a empresa possui equipe dedicada à revisão manual de conteúdos e ferramentas para detectar material protegido, e que parte do novo investimento será destinada ao aprimoramento desses sistemas.
Apesar de ter superado o Pocket FM em downloads, a Kuku registra receita menor em compras internas. Segundo a Appfigures, enquanto 82% dos downloads do Pocket FM vêm da Índia, 98% da receita da rival é gerada fora do país. Em 2025, o Pocket FM teve queda de 21% nos downloads, para 38 milhões, mas aumento de 61% no gasto dos usuários, alcançando US$ 100 milhões.
Próximos passos
Com 150 funcionários, a Kuku pretende usar os novos recursos para reforçar infraestrutura de dados e IA, ampliar a equipe de tecnologia e conteúdo, atrair celebridades do cinema e da TV, aprofundar parcerias com criadores e acelerar a expansão internacional. A empresa já testa seus serviços no Oriente Médio e nos Estados Unidos e planeja ampliar a presença no mercado norte-americano em 2026.
Com informações de TechCrunch