Roma (Itália) – A repórter investigativa Marilù Mastrogiovanni, fundadora do jornal Il Tacco d’Italia, aguarda o veredicto de dois processos por calúnia movidos depois de reportagens que expuseram a infiltração da máfia em prefeituras da região da Puglia. A última audiência ocorreu nesta semana no Tribunal de Lecce, e a decisão está marcada para 5 de novembro.
Uma das ações foi apresentada por Gianni Stefàno, então prefeito de Salento e integrante do partido de direita Fratelli d’Italia. Após a publicação, em 2016, de uma série sobre o assassinato do chefe mafioso Augustino Potenza, a jornalista descreveu a influência política e social exercida pelo criminoso, o que motivou o processo e desencadeou uma campanha contra ela em redes sociais, veículos de comunicação locais e até em cartazes nas ruas.
A Federação Nacional da Imprensa Italiana (FNSI) classifica o caso como um SLAPP – ação judicial estratégica para restringir a participação pública –, argumentando que processos desse tipo visam intimidar profissionais da mídia. A entidade afirma confiar na possibilidade de Mastrogiovanni comprovar a veracidade dos conteúdos publicados.
Desde 2017, a repórter vive sob proteção policial em outra cidade, após receber ameaças constantes. Segundo a FNSI, ela é obrigada a demonstrar na Justiça que o esquema de segurança foi efetivamente implementado, exigência considerada “paradoxal” pela federação.
Anthony Bellanger, secretário-geral da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), condenou “tentativas claras de intimidar profissionais da mídia e dissuadi-los de documentar realidades incômodas”.

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A repercussão do caso não impediu que Mastrogiovanni continuasse investigando o crime organizado. Em maio deste ano, ela foi retratada em um documentário da emissora pública France24 sobre mulheres que desafiam a Sacra Corona Unita, conhecida como “quarta máfia”, no sul da Itália.
Com informações de MediaTalks