Genebra – Passados exatos dois anos do ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, diplomatas e analistas apontam que a faixa de Gaza, Israel, o equilíbrio político no Oriente Médio e a própria Organização das Nações Unidas (ONU) atravessam transformações profundas.
Reféns e impacto humano
Dos 251 israelenses feitos reféns pelo Hamas no primeiro dia da ofensiva, cerca de 20 permanecem vivos sob custódia do grupo. Outros 25 teriam morrido, sem que os corpos tenham sido devolvidos às famílias.
Gaza sob devastação
Relatórios da ONU indicam mais de 66 mil mortos na faixa de Gaza, com mulheres e crianças somando mais da metade das vítimas. A agência descreve o enclave como “inferno na Terra”. A fome foi oficialmente declarada, após a destruição de entre 80% e 96% dos ativos agrícolas — sistemas de irrigação, fazendas de gado, pomares, máquinas e armazéns —, o que agravou a insegurança alimentar crônica.
O setor privado também foi dizimado: 82% das empresas sofreram danos ou foram destruídas. O Produto Interno Bruto (PIB) local despencou 81% no último trimestre de 2023, provocando retração anual de 22%. Em meados de 2024, a economia de Gaza equivalia a menos de um sexto do nível registrado em 2022.
O quadro piorou em 2025. A ONU apurou desemprego acima de 80%, comércio estagnado e pobreza endêmica. A escassez de moeda circulante, após a destruição de agências bancárias e caixas eletrônicos e o bloqueio israelense à entrada de dinheiro, disparou a inflação: o preço do óleo de cozinha subiu 1.200% e o da farinha, 5.000% até meados deste ano.
A crise também atinge a Cisjordânia. Israel reteve receitas tributárias da Autoridade Palestina, atrasando salários e comprometendo a liquidez do governo local.
Estima-se que 2 milhões de palestinos tenham sido deslocados dentro da própria Gaza, muitos mais de uma vez.
Isolamento diplomático de Israel
O governo de Benjamin Netanyahu enfrenta crescente isolamento. Em setembro passado, durante a Assembleia Geral da ONU, dezenas de delegações deixaram o plenário quando o primeiro-ministro iniciou seu discurso. Para viajar aos Estados Unidos, Netanyahu evitou o espaço aéreo de países europeus que sinalizaram disposição para cumprir ordens internacionais de prisão por crimes de guerra.

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O reconhecimento da Palestina como Estado ganhou apoio inclusive de membros do G7, antes aliados israelenses. Manifestações pró-Palestina tomaram ruas de várias capitais, consolidando a perda de apoio popular a Tel Aviv.
Internamente, a ofensiva militar custou US$ 100 bilhões, gerou déficit público de 6% e levou a cortes em saúde e educação.
Reconfiguração regional
A aliança liderada pelo Irã — formada por Hezbollah, Hamas e rebeldes Houthis — sofreu abalos. O Hezbollah perdeu dirigentes em operações seletivas, o Irã foi alvo de ataques e, segundo Israel, bombardeios contra posições do grupo libanês na Síria contribuíram para a queda do regime de Bashar al-Assad em dezembro de 2024.
ONU sob pressão
Incapaz de aprovar resoluções no Conselho de Segurança devido aos vetos dos Estados Unidos, a ONU viu sua legitimidade questionada por funcionários e governos. As críticas só aumentaram até setembro de 2025, quando um comitê independente da organização concluiu que Israel conduz um genocídio em Gaza.
Com os atores regionais realinhados, Gaza devastada, Israel politicamente isolado e a ONU pressionada, especialistas avaliam que as consequências do 7 de outubro de 2023 continuarão a reverberar por anos.
Com informações de UOL