Anistia testa liderança de Hugo Motta e expõe desgaste com governo e oposição

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), enfrenta forte pressão de aliados do Palácio do Planalto e de parlamentares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro após liberar, em 17 de setembro, a votação do requerimento de urgência que acelera a tramitação de um projeto de ampla anistia para condenados pelos ataques de 8 de Janeiro.

Motta, de 36 anos, chegou ao cargo em fevereiro com apoio simultâneo de PT e PL. Desde então, tenta equilibrar os interesses dos dois grupos enquanto carrega a desconfiança de que atua sob influência do ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), e do senador Ciro Nogueira (PP-PI).

Expectativa frustrada do PT

No dia da votação, governistas contavam com articulação de Motta para barrar o pedido de urgência, o que representaria derrota simbólica para a base bolsonarista. O presidente da Câmara, porém, permitiu a deliberação, e o requerimento foi aprovado. O gesto irritou o PT, que passou a questionar a capacidade do deputado de controlar o processo legislativo nas próximas etapas.

A irritação ganhou força porque, na véspera, o governo já havia se desentendido com Motta durante a análise da PEC da Blindagem, proposta que prevê votação secreta para autorização de processos contra parlamentares. Embora petistas tenham sido decisivos para manter o ponto central do texto, Motta esperava posicionamento mais firme do Executivo a favor da medida.

Plano de “anistia light”

Apesar do aval ao requerimento dos bolsonaristas, o presidente da Câmara planeja substituir o texto original por uma proposta intermediária que reduza as penas, sem conceder perdão total. O relator designado, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), já anunciou que apresentará um “PL da Dosimetria”, não um “PL da Anistia”.

Negociações conduzidas por integrantes do centrão incluíram conversas reservadas com ministros do Supremo Tribunal Federal para permitir que o ex-presidente Bolsonaro, caso condenado, possa cumprir pena em regime domiciliar.

Histórico de acordos questionados

Parlamentares governistas apontam outros compromissos descumpridos por Motta, como a troca de relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026, inicialmente prometida ao PT e entregue ao deputado Gervásio Maia (PSB-PB) após pressão do centrão. Também há dúvidas sobre o apoio dele a um nome petista para a próxima vaga no Tribunal de Contas da União.

O presidente da Câmara já foi criticado por ambos os lados: primeiro por suposta proximidade excessiva com o Planalto e, depois, por ceder a pleitos da direita, como quando colocou em votação a derrubada de um decreto do IOF editado por Lula.

Interesses na Paraíba

A situação se complica pela sucessão de 2026 no Senado. Motta busca o respaldo de Lula para eleger o pai, Nabor Wanderley (Republicanos-PB), enquanto o governador João Azevêdo (PSB) já conta com apoio do presidente da República para uma das vagas. O senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), adversário de Nabor, reuniu-se recentemente com Lula e saiu do encontro afirmando ter recebido garantias de engajamento.

Dirigentes petistas na Paraíba alertam que, caso Motta avance em pautas identificadas com o bolsonarismo, o partido poderá recuar no apoio a seu projeto familiar. Aliados do presidente da Câmara, porém, avaliam que o governo precisará manter a parceria pela fragilidade de sua base na Casa.

Nos últimos meses, o deputado paraibano acompanhou Lula em solenidades oficiais, como o desfile de 7 de Setembro e eventos do Ministério da Educação, sinalizando aproximação que contrasta com a postura de seu antecessor.

O desenrolar da proposta de anistia será, portanto, decisivo para medir a autoridade de Hugo Motta no comando da Câmara e definir o tamanho de seu capital político junto a Planalto e oposição.

Com informações de Folha de S.Paulo

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