NOVA YORK — A abertura da 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, que começa nesta semana, pode colocar os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump frente a frente pela primeira vez desde que assumiram seus atuais mandatos. O encontro, ainda sem agenda bilateral prevista, acontece enquanto vigora a tarifa de 50% imposta por Washington sobre produtos brasileiros.
Ambiente de tensão
Tradicionalmente, o Brasil inaugura os discursos da sessão plenária. Antes de subir ao púlpito, os chefes de Estado aguardam em uma antessala, onde há chance de um encontro casual. Fontes da delegação brasileira afirmam, porém, que não há qualquer sinalização de reunião formal entre os dois líderes.
Em entrevista recente à BBC News Brasil, Lula disse não ter “problema pessoal” com Trump e prometeu cumprimentá-lo caso se cruzem nos corredores. “Sou um cidadão civilizado. Eu converso com todo mundo, estendo a mão para todo mundo”, declarou.
Assessor especial da Presidência, Celso Amorim afirmou em agosto que um encontro oficial “não está nos planos”, embora admita mudanças “caso haja gestos que o justifiquem”. A expectativa de uma reunião havia surgido em junho, na cúpula do G7 no Canadá, mas Trump deixou o evento antes do encerramento alegando necessidade de tratar do conflito no Irã.
Escalada de atritos
A tensão entre Brasília e Washington ganhou força no início de julho, quando Trump chamou as ações do Supremo Tribunal Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro de “caça às bruxas”. Em 9 de julho, o republicano anunciou a sobretaxa de 50% sobre importações brasileiras; no dia seguinte, Lula classificou a medida como “chantagem inaceitável” e prometeu retaliar.
O governo brasileiro regulamentou em 15 de julho a Lei de Reciprocidade, criando instrumentos para responder a sanções estrangeiras. As tarifas norte-americanas passaram a valer em 1º de agosto. Já em 11 de setembro, a condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão reacendeu o conflito: Trump criticou a decisão e restringiu vistos a ministros do STF, enquanto Lula publicou artigo no The New York Times defendendo a democracia brasileira e questionando as tarifas.
Expectativa baixa para diálogo
Para Paulo Velasco, professor de Política Internacional da UERJ, as posições firmes dos dois governos tornam improvável qualquer avanço nesta semana. “O Brasil defende sua soberania e repele ingerências externas, enquanto Trump crê estar agindo corretamente ao denunciar uma ‘caça às bruxas’”, avaliou.

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Matias Spektor, da FGV-SP, acrescenta que eventual contato será protocolar: “Eles podem dividir a sala de espera, mas não haverá tempo nem equipes preparadas para negociações substantivas.” Segundo o pesquisador, cada presidente deve usar o púlpito da ONU para falar principalmente ao público interno.
Comitiva brasileira
O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, teve o visto liberado pelos Estados Unidos e acompanhará Lula em Nova York. A delegação também inclui o chanceler Mauro Vieira e o assessor Celso Amorim.
Diplomatas observam que, apesar da baixa probabilidade de um aperto de mãos, qualquer gesto será minuciosamente analisado como sinal de descompressão — ou de aprofundamento — da crise que, em menos de três meses, levou divergências políticas a um conflito comercial aberto.
Com informações de G1