NOVA YORK — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, concedeu nesta semana perdão presidencial a Changpeng Zhao, o bilionário sino-canadense que fundou a Binance em 2017 e transformou a empresa na maior plataforma de negociação de criptoativos do mundo.
A medida reavivou questionamentos sobre a possibilidade de grandes doadores e empresários influentes conseguirem favores na chamada “era Trump 2.0”. Zhao, conhecido como CZ, manteve influência no setor mesmo após admitir violações de lavagem de dinheiro perante a Justiça norte-americana, pagar multa de US$ 50 milhões e cumprir quatro meses de prisão federal. Ele detém cerca de 90% da Binance e tem fortuna estimada em mais de US$ 80 bilhões, segundo a Forbes.
Acusações e acordos nos EUA
Em 2023, promotores federais afirmaram que a Binance se tornara um canal para transações ilícitas ligadas a abuso sexual infantil, tráfico de drogas, financiamento do terrorismo e lavagem de dinheiro. Documentos judiciais indicam que a empresa não adotava procedimentos básicos de prevenção a crimes financeiros: “Precisamos de um banner: ‘lavar dinheiro de drogas está difícil? Venha para a Binance, temos bolo para você’”, escreveu um funcionário de compliance, segundo o processo.
Diante das acusações, Zhao renunciou ao cargo de CEO, mas continuou associado à marca. “Meu registro oficial foi manchado por um tempo, mas minha reputação permaneceu forte. Ninguém, nem uma pessoa, deixou de fazer negócio comigo”, afirmou na sexta-feira. Atualmente, Zhao vive nos Emirados Árabes Unidos.
Binance e o alcance global
Com 280 milhões de usuários e mais de US$ 217 bilhões em volume diário de operações, a Binance concentra 40% do mercado de exchanges centralizadas. Apesar de banida nos EUA em 2019, a empresa lançou a Binance.US, versão limitada que muitos residentes conseguiram contornar, segundo o Departamento de Justiça.
A plataforma permite desde a compra de criptomoedas com valores modestos até serviços sofisticados, como negociação com margem e staking, que oferece renda passiva sobre os ativos dos investidores.
Expansão cripto e interesses da Casa Branca
De projeto experimental, o mercado cripto chegou a US$ 3,5 trilhões, impulsionado pelo apoio de Trump, que se tornou entusiasta do setor e prometeu fazer dos EUA “a capital mundial das criptomoedas”. Nas eleições de 2024, o segmento foi o maior financiador corporativo da campanha de reeleição do republicano.
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Nos últimos meses, o Congresso aprovou um projeto regulatório apoiado pela indústria, enquanto ETFs de bitcoin atraíram instituições financeiras tradicionais. Ainda assim, 63% dos norte-americanos demonstram pouca ou nenhuma confiança nas criptos como investimento, segundo o Pew Research Center.
Ligação financeira entre Trump e Binance
O perdão a Zhao intensificou debates sobre conflitos de interesse, já que a Binance tem relação direta com os negócios cripto da família Trump. Em março, a World Liberty Financial — controlada pelos Trump em parceria com a família do negociador Steve Witkoff — lançou a stablecoin USD1, atrelada ao dólar. A Binance desenvolveu o código-base da moeda e passou a promovê-la aos seus milhões de usuários.
Pouco depois, uma empresa sediada nos Emirados Árabes Unidos anunciou que usaria USD1 para adquirir participação de US$ 2 bilhões na Binance, operação que deve render milhões à World Liberty.
Críticos apontam que o caso exemplifica a facilidade com que recursos podem fluir para a família presidencial por meio de ativos digitais ainda pouco regulados.
Com informações de CNN Business


