Em apresentação no TechCrunch Disrupt, realizado na semana passada em São Francisco, o sócio da Sequoia Capital e “global steward” do grupo, Roelof Botha, aconselhou empreendedores a não perseguirem avaliações “nas alturas” e manifestou desconforto com a entrada permanente do governo norte-americano em cap tables de empresas privadas.
“Uma das frases mais perigosas que existem é: ‘Sou do governo e estou aqui para ajudar’”, afirmou o executivo, que se descreve como “meio libertário, defensor do livre mercado”. Para ele, a estratégia de Washington de adquirir participações diretas em companhias não seria necessária se outras nações, como a China, não utilizassem política industrial para impulsionar setores estratégicos.
Ameaça de desvalorização súbita
Botha relatou que, na manhã do próprio evento, discutiu com colegas o caso de uma investida cuja avaliação saltou de US$ 150 milhões para US$ 6 bilhões em 2021 e depois despencou. Segundo o investidor, ciclos tão rápidos podem desmotivar equipes quando o valor de mercado “no papel” evapora.
O executivo deu dois conselhos às startups: se o caixa cobre pelo menos os próximos 12 meses, evite captar agora e foque em execução; se a empresa terá necessidade de recursos dentro de seis meses, aproveite enquanto “o dinheiro ainda flui”, pois o cenário pode mudar repentinamente. Para ilustrar, citou o mito de Dédalo e Ícaro: quem voa alto demais corre o risco de derreter as asas.
Novos fundos e foco em estágios iniciais
Durante o palco, Botha anunciou dois novos veículos — um de seed e outro de venture — que acrescentam US$ 950 milhões ao poder de fogo da Sequoia. O tamanho é “basicamente o mesmo” dos fundos lançados há seis ou sete anos, pontuou.
A casa continua priorizando o estágio inicial: nos últimos 12 meses, a gestora investiu em 20 startups seed, nove delas ainda na fase de constituição. “Somos mais mamíferos do que répteis: não botamos 100 ovos para ver o que acontece; temos poucos filhotes e damos muita atenção a cada um”, comparou.
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Mesmo com histórico de acertos — a carteira inclui apostas precoces em Nvidia, Apple, Google e Palo Alto Networks —, Botha lembrou que, em 50 % dos casos ao longo de 20 a 25 anos, a Sequoia não recuperou integralmente o capital investido. Ele recordou ter chorado em uma reunião de sócios após seu primeiro “write-off” completo.
Processo decisório horizontal
Qualquer investimento da Sequoia precisa de consenso entre os parceiros, revelou Botha. Toda segunda-feira, o grupo inicia a reunião com uma votação anônima sobre os materiais analisados no fim de semana; conversas paralelas são proibidas. “Ninguém, nem eu, consegue impor um aporte”, disse, citando um caso em que passou seis meses defendendo um investimento de growth até conquistar a aprovação.
Crítica ao excesso de capital
Para Botha, o venture capital não deveria ser tratado como classe de ativo padrão. “Se você tirar os 20 principais fundos, o setor, como um todo, perde para um índice de mercado”, declarou. Ele ressaltou que hoje existem cerca de 3 000 firmas de VC nos Estados Unidos, três vezes mais do que quando ingressou na Sequoia, o que, em sua visão, dilui a capacidade de surgirem empresas realmente excepcionais. A solução apontada: “manter-se pequeno e focado”.
Com informações de TechCrunch


