Zehra Naqvi, que passou a adolescência nos fandoms de One Direction e Marvel, anunciou neste mês o Lore, uma plataforma criada para fãs acompanharem de perto seus universos favoritos. A empreendedora resume o momento atual das redes: “Há abundância de conteúdo, mas escassez de alegria”.
Nova lógica: do alcance à profundidade
Segundo investidores e fundadores ouvidos pelo TechCrunch, usuários querem trocar os grandes “palcos” — Facebook, Instagram e o antigo Twitter — por ambientes menores e afinados a interesses específicos. “O comportamento do consumidor está migrando da performance para a participação”, disse Natalie Dillon, sócia da Maveron. Para ela, nas redes da próxima geração a comunidade deixa de ser funcionalidade e vira o próprio produto.
Aplicativos que apostam em interesses
Entre os exemplos citados por Dillon estão:
- Beli – permite compartilhar restaurantes preferidos com amigos;
- Fizz – conecta estudantes que cursam a mesma universidade;
- Co-Star – reúne apaixonados por astrologia;
- Partiful – organiza eventos entre amigos.
Naqvi quer que o Lore evoque o “primeiro” período das redes sociais, antes de se tornarem — nas palavras dela — “fraturadas e sem graça”.
Fadiga do doomscrolling
Claire Wardle, pesquisadora da Universidade Cornell, afirma que o modelo de plataformas gigantes enfrenta desgaste em razão de preocupações com tempo de tela, moderação de conteúdo e polarização política. Embora TikTok e Threads (com mais de 400 milhões de usuários mensais) sejam exceções de grande escala, Wardle classifica o TikTok como rede de difusão em massa, não de comunidade.
Refúgios e novas comunidades
Alguns projetos já ganharam força ao privilegiar grupos específicos:
Spill – Criada por Alphonzo Terrell, virou abrigo para ex-usuários negros do X (ex-Twitter). O aplicativo sugere comunidades — como grupo para quem acompanha a WNBA —, oferece jogos tradicionais como Spades e promove “Tea Parties” de co-viewing com Netflix, Amazon e Paramount. “A próxima era não é sobre quem tem mais seguidores, e sim sobre ajudar pessoas a encontrarem as suas”, disse Terrell.

Imagem: Getty
Blacksky – Fundado por Rudy Fraser, funciona no mesmo protocolo do Bluesky, mas com filtro avançado contra assédio racial. Os usuários mantêm posse dos dados, podem escolher onde armazená-los e votam em diretrizes, incluindo se pessoas não negras podem publicar. “Às vezes você quer palco global; outras, um cantinho acolhedor”, resume Fraser. O Bluesky, base da iniciativa, se aproxima de 40 milhões de contas, de acordo com contador público.
A força da inteligência artificial
Austin Clements, da Slauson & Co., observa que fundadores usam IA para criar experiências hiperpersonalizadas. No Lore, Naqvi mantém detalhes em sigilo, mas diz que o recurso oferece um “mapa” do fandom: reúne teorias, contexto cultural, easter eggs e envia relatórios mensais sobre os temas que mais prendem cada usuário. Testadores chamam a criadora de “Mother Lore”.
Criadores no controle
Emily Herrera, ex-Slow Ventures, avalia que influenciadores deixam o modelo de “broadcast” e passam a construir os próprios ecossistemas — algo visível em newsletters. Dani Tran, da BITKRAFT Ventures, aponta tendência similar em games e cita o estúdio Superbloom, voltado a públicos sub-representados.
Para Dillon, vencerá quem juntar intimidade, utilidade e criatividade em um só ambiente. Como define Naqvi, o objetivo é simples: “ajudar as pessoas a lembrar por que a internet já foi divertida”.
Com informações de TechCrunch