O Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE) cancelou nesta semana quase US$ 8 bilhões em contratos, medida divulgada pela administração Trump como uma forma de priorizar combustíveis fósseis em detrimento de fontes renováveis. Documentos obtidos pelo TechCrunch, porém, revelam um cenário mais complexo, com 321 projetos na linha de corte.
Embora grande parte das iniciativas estivesse ligada a energia limpa, algumas propostas relacionadas à indústria de petróleo e gás também foram afetadas. Entre elas, destacam-se um repasse de US$ 300 milhões à Colorado State University e outro de US$ 210 milhões ao Gas Technology Institute (GTI), ambos destinados a reduzir emissões de metano em poços. Ao todo, o GTI perdeu 12 contratos somando US$ 417 milhões.
Projetos de captura e remoção de carbono sofreram forte impacto: 10 das 21 iniciativas nessa área, avaliadas em cerca de US$ 200 milhões, foram canceladas. Segundo Erin Burns, diretora-executiva da organização Carbon180, três fatores se repetem nos cortes: localização, parceiros envolvidos e viabilidade de execução.
Estados democratas concentram maiores perdas
Os cancelamentos atingiram principalmente estados que, na última eleição presidencial, votaram em Kamala Harris. A Califórnia lidera com pelo menos US$ 2,2 bilhões suspensos. Colorado, Illinois, Massachusetts, Minnesota e Oregon perderam cerca de US$ 500 milhões cada, enquanto Nova York deixou de receber pelo menos US$ 309 milhões. Entre os estados que apoiaram Trump, as perdas ficaram na casa de poucos milhões.
Grandes projetos de rede elétrica ficam sem verbas
O maior contrato cancelado, de US$ 467 milhões, havia sido concedido ao estado de Minnesota pelo Bipartisan Infrastructure Law, em 2021. O objetivo era modernizar interconexões da rede elétrica em sete estados do Meio-Oeste, liberando até 28 gigawatts de nova capacidade — em sua maioria solar e eólica.
Outro projeto, avaliado em US$ 630 milhões, modernizaria a malha elétrica da Califórnia com condutores avançados e sistemas de medição dinâmica, servindo de vitrine nacional para atualização da transmissão. Já no Oregon, a retirada de US$ 250 milhões inviabiliza a instalação de uma linha de transmissão para a Confederação das Tribos de Warm Springs, que aguardava conexão para meia dúzia de empreendimentos renováveis e acesso a fibra óptica.

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Incerteza para o setor
Courtni Holness, assessora de políticas na Carbon180, observa que os projetos preservados em estados democratas parecem mais alinhados às prioridades do governo. Ela e Burns apontam que cancelamentos de menor porte são comuns no modelo de inovação energética dos EUA, mas alertam para empresas que já consideram levar investimentos a países com políticas mais estáveis, como o Canadá.
“É uma questão maior sobre a estabilidade do nosso Departamento de Energia e a capacidade de ser um parceiro previsível para os negócios”, afirmou Holness.
Com informações de TechCrunch