Empresas de inteligência artificial estão construindo gigantescos complexos de data centers próximos a regiões produtoras de gás natural nos Estados Unidos e, em muitos casos, gerando a própria energia a partir do combustível fóssil extraído por fraturamento hidráulico. O movimento reacende debates sobre impactos ambientais, consumo de água e uso de terras em comunidades rurais.
Projeto de 2 GW no Oeste do Texas
O exemplo mais recente é o da startup Poolside, que ergue um centro de dados em uma área de mais de 500 acres no oeste do Texas, a cerca de 480 km de Dallas. Batizado de Horizon, o complexo terá capacidade de computação de dois gigawatts — equivalente à produção total de energia da represa Hoover — obtida pela queima de gás proveniente da Bacia do Permiano, maior campo petrolífero e gasífero do país. A construção é realizada em parceria com a provedora de nuvem CoreWeave, que fornecerá acesso a mais de 40 mil chips Nvidia.
OpenAI admite uso de gás em Abilene
No mês passado, o diretor-executivo da OpenAI, Sam Altman, visitou o Stargate, data center da companhia em Abilene (Texas), situado a cerca de 320 km da Bacia do Permiano. O complexo demanda aproximadamente 900 megawatts distribuídos por oito edifícios e conta com uma usina própria a gás equipada com turbinas semelhantes às de navios de guerra. Segundo as empresas envolvidas, a planta serve de reserva; a maior parte da eletricidade viria da rede local, que combina gás natural a extensos parques eólicos e solares da região.
Moradores relatam incômodo com a derrubada de vegetação e o aumento do barulho. Em um território propenso à seca, também há receio de escassez de água. A Oracle, responsável pelo sistema de resfriamento, afirma que cada prédio precisará de apenas 12 mil galões por ano após um enchimento inicial de um milhão de galões em circuito fechado, mas pesquisadores apontam consumo indireto maior devido à demanda adicional de energia.
Meta e seu plano de US$ 10 bilhões na Louisiana
A Meta pretende erguer em Richland Parish (Louisiana) um data center de US$ 10 bilhões, equivalente a 1.700 campos de futebol, que exigirá dois gigawatts apenas para computação. A concessionária Entergy destinará US$ 3,2 bilhões à construção de três usinas a gás — 2,3 gigawatts no total — alimentadas por gás extraído por fracking na formação Haynesville Shale. Moradores reportam obras ininterruptas e preocupações similares às do Texas.
Em paralelo, a Meta anunciou um investimento de US$ 1,5 bilhão em El Paso (Texas), com capacidade de um gigawatt prevista para 2028. A empresa afirma que essa instalação será compensada com 100% de energia limpa e renovável.
xAI recorre a gasodutos de fracking
O projeto da xAI em Memphis (Tennessee) também se conecta ao fracking. A concessionária local compra gás no mercado à vista e o transporta por dutos operados pela Texas Gas Transmission Corp. e pela Trunkline Gas Company, ambos abastecidos por formações exploradas com fraturamento hidráulico.

Imagem: Getty
Geopolítica sustenta expansão
Para justificar a dependência de gás natural, executivos do setor citam a necessidade de acompanhar a rápida expansão energética da China. Chris Lehane, vice-presidente de assuntos globais da OpenAI, declarou que o país precisará gerar “cerca de um gigawatt por semana” no futuro próximo, lembrando que a nação asiática adicionou 450 gigawatts de capacidade e 33 usinas nucleares em um ano.
Em julho de 2025, uma ordem executiva da administração Trump acelerou licenças ambientais para data centers movidos a gás, carvão ou nuclear, oferecendo incentivos financeiros e liberando terras federais — excluindo explicitamente fontes renováveis.
O debate sobre necessidade real
Estudo da Universidade Duke indica que concessionárias utilizam em média 53% de sua capacidade anual. Se data centers reduzissem o consumo pela metade durante picos de demanda, seria possível acomodar 76 gigawatts adicionais, enquanto a necessidade prevista do setor até 2029 é de 65 gigawatts.
Apesar de investimentos privados em pequenos reatores modulares, energia solar e startups de fusão — apoiadas por nomes como Nvidia e Sam Altman — tais soluções podem levar décadas para ganhar escala. Enquanto isso, contratos de fornecimento de 15 anos, como o da Meta com a Entergy e o da Poolside com a CoreWeave, deixam em aberto o custo que recairá sobre consumidores quando esses acordos expirarem.
Com informações de TechCrunch