JERUSALÉM / SHARM EL-SHEIKH, 13 de outubro de 2025 — Os 20 últimos reféns israelenses mantidos vivos na Faixa de Gaza foram libertados nesta segunda-feira (13) e reencontraram seus familiares em meio a comemorações em Israel, enquanto chefes de Estado se reuniam no Egito para formalizar as próximas etapas do cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos.
Reencontros depois de mais de dois anos
Os reféns deixaram Gaza em dois grupos. Na Praça dos Reféns, em Tel Aviv, multidões comemoraram com bandeiras e gritos de “obrigado, Trump!”, referência ao presidente dos EUA, Donald Trump, principal articulador do acordo.
No centro militar de Reim, no sul de Israel, ocorreram os reencontros familiares. Imagens divulgadas pelo Exército israelense mostram Guy Gilboa-Dalal, 24 anos, sequestrado durante o festival de música Nova, abraçando pais e irmãos. Já Omri Miran, 48, levado de sua casa no kibutz Nahal Oz, apareceu brincando com os filhos após mais de dois anos.
Entrega de corpos
O Hamas repassou à Cruz Vermelha quatro caixões com restos mortais de reféns. Israel ainda não confirmou as identidades. Ao todo, 28 corpos permaneciam retidos em Gaza, um deles antes mesmo de 7 de outubro de 2023. Pelo acordo, todos os restos deveriam ser devolvidos em até 72 horas após o cessar-fogo.
Libertação de palestinos
Em contrapartida, Israel libertou 1.718 palestinos detidos nos últimos dois anos sem acusação formal. Eles retornaram a Gaza em ônibus e foram recebidos nas proximidades do hospital Nasser, no sul do enclave. Outros 250 palestinos com penas longas ou perpétuas também foram soltos, parte deles chegando à Cisjordânia em meio a forte presença de forças de segurança palestinas.
Segundo a Sociedade de Prisioneiros Palestinos, 154 presos condenados por crimes violentos foram deportados ao Egito, conforme exigência israelense de que não retornassem a Gaza ou à Cisjordânia.
Trump no Knesset e cúpula no Egito
Em discurso de mais de uma hora no Knesset, Trump declarou que “o longo pesadelo terminou” e advertiu o premiê Benjamin Netanyahu a não retomar a guerra: “Israel conquistou tudo o que podia pela força. Agora é hora de colher os frutos da paz”. Ele acrescentou que um reinício dos combates prejudicaria o legado do líder israelense.
Depois, o presidente americano seguiu para Sharm el-Sheikh, onde se encontrou com líderes do Egito, Catar, Jordânia, Autoridade Palestina, França, Alemanha e Reino Unido. Durante a cúpula, foi realizada a assinatura formal do cessar-fogo. Netanyahu foi convidado, mas não compareceu.

Imagem: Lauren Kent
Pontos ainda pendentes
O cessar-fogo integra um plano de 20 itens elaborado por EUA, Egito, Catar e Turquia. Permanecem sem consenso a administração de Gaza no pós-guerra, o desarmamento do Hamas e a retirada total das forças israelenses — condicionada, pelo texto, à entrega das armas pelo grupo.
O principal negociador do Hamas, Khalil al-Hayya, declarou ter recebido garantias internacionais de que o conflito terminou em caráter permanente, embora os detalhes não tenham sido divulgados.
Para a pesquisadora Burcu Ozcelik, do Royal United Services Institute (RUSI), o futuro do Hamas é a questão central. “Há um caminho para a criação de um Estado palestino, mas sem espaço para o Hamas. Como o grupo reagirá ainda é uma incógnita”, afirmou à CNN, acrescentando que Egito e Turquia deverão ter papel-chave na transição.
Com a libertação dos últimos reféns vivos, é a primeira vez em mais de dois anos que nenhuma pessoa permanece em poder do Hamas em Gaza.
Com informações de CNN