Casos fatais de envenenamento por metanol têm se multiplicado em diferentes continentes, indicando um problema que atravessa fronteiras e desafia autoridades de saúde. Levantamento da Methanol Poisoning Initiative (MPI), ligada aos Médicos Sem Fronteiras, estima que a substância industrialmente usada como solvente provoque a morte de 20% a 40% das pessoas intoxicadas a cada ano.
Rússia: 25 mortos após vodca adulterada
Em setembro, 25 moradores de São Petersburgo perderam a vida após consumir vodca falsificada. Testes forenses identificaram altos níveis de metanol no sangue das vítimas. A polícia deteve 14 suspeitos e apreendeu 1.300 litros de bebida irregular. Casos semelhantes já haviam ocorrido em 2021, quando 29 pessoas morreram na região de Orenburg, levando o governo a reforçar controles sobre produtos com alta concentração alcoólica.
Índia: mercado ilegal alimentado pelo preço baixo
Em maio, 21 pessoas morreram e 10 ficaram internadas no estado de Punjab. Um ano antes, em Tamil Nadu, 53 óbitos foram registrados. O país convive com episódios frequentes ligados ao hooch, bebida artesanal de baixo custo – cerca de 25 a 30 rupias, contra até 400 rupias de uísque legal. Para reduzir gastos, produtores clandestinos costumam misturar metanol, além de folhas de tabaco e até conteúdo de pilhas. O surto mais grave ocorreu em 2019, quando 168 trabalhadores de plantações de chá morreram em Assam.
Laos: turistas entre as vítimas
Seis visitantes estrangeiros, entre eles três australianos e uma britânica, morreram em novembro de 2024 depois de consumir destilados locais. As amostras enviadas à Tailândia confirmaram contaminação por metanol. O caso levou Austrália, Reino Unido e Nova Zelândia a emitirem alertas de viagem. Pesquisadores da Universidade de Adelaide desenvolveram um sensor sem fio capaz de detectar metanol em concentrações de até 50 partes por bilhão.
Indonésia: liderança em registros de intoxicação
Com 335 casos suspeitos, a Indonésia aparece no topo do ranking da MPI. As bebidas conhecidas como “miras oplosan” ou Arak, vendidas em pontos sem licença, predominam nas áreas turísticas de Bali, Lombok e Ilhas Gili. Turistas e população local já relataram cegueira permanente e mortes após o consumo.
Camboja: destilação artesanal sob risco
O vinho de arroz produzido de forma caseira integra rituais e festividades, mas a substituição de processos tradicionais por atalhos químicos gerou um surto em 2012, com 49 mortos e mais de 300 hospitalizados. A adição de metanol serve para acelerar a produção e reduzir custos.
Vietnã: 85% do álcool é artesanal
Maior consumidor de bebidas alcoólicas da Asean, o Vietnã registrou 28 incidentes com metanol até setembro. Sem rótulo ou registro, os destilados circulam de áreas rurais a bares urbanos, dificultando rastreamento de surtos.

Imagem: Internet
Filipinas: “gim cego” ilustra gravidade
No país, o termo popular “Gin-Bulag” — “gim cego” — define o efeito súbito de cegueira causado por bebidas misturadas a metanol. Falta de informação e ausência de antídotos como etanol ou fomepizol agravam os casos.
Ranking da MPI
Dez países concentram a maioria dos episódios suspeitos de envenenamento por metanol:
1. Indonésia (335) 2. Índia (140) 3. Rússia (121) 4. Bangladesh (52) 5. Paquistão (42) 6. China (30) 7. Camboja (28) 8. Irã (28) 9. Vietnã (28) 10. Quênia (24)
Especialistas alertam que a semelhança visual entre metanol e etanol dificulta a identificação em bebidas adulteradas. A combinação de produção clandestina, fiscalização limitada e busca por preços baixos mantém o envenenamento por metanol como ameaça de alcance global.
Com informações de UOL Notícias