Com pouco mais de quatro meses de pontificado, o papa Leão 14 vem equilibrando sinais de continuidade em relação a Francisco com gestos que buscam marcar um rumo próprio. O momento mais simbólico dessa tentativa ocorreu em 12 de setembro, quando o pontífice recebeu 20 dirigentes de redações de vários países para uma audiência privada na Sala Clementina, no Palácio Apostólico.
Convite inesperado
O encontro foi articulado pelo padre Enzo Fortunato, diretor de Comunicação da Basílica de São Pedro. O convite chegou por WhatsApp em 18 de junho e reuniu representantes de veículos como The New York Times, Le Monde, CNN, BBC, Reuters e, do Brasil, a Globo. A reunião abriu a terceira edição do World Meeting on Human Fraternity, fórum de dois dias organizado pela Fundação Fratelli Tutti e parceiros.
Agenda no Vaticano
Além da audiência, os participantes visitaram a Capela Sistina, jantaram nos Museus do Vaticano, atravessaram a Porta Sagrada e foram recebidos no terraço ao lado do domo projetado por Michelangelo. Entre os convidados estavam 11 vencedores do Nobel da Paz, a ativista Graça Machel Mandela e líderes de diversas religiões.
Discurso contido
Pontualmente ao meio-dia, Leão 14 entrou na Sala Clementina, saudou a primeira fila, sentou-se na cadeira cerimonial e leu por dez minutos um texto em italiano e inglês. Citando a passagem bíblica de Caim e Abel, questionou a responsabilidade de cada pessoa diante de migrantes, pobres e vítimas de guerras. O papa manteve tom discreto, preferindo a leitura a improvisos, e deixou o local sem responder a perguntas.
Show na Praça São Pedro
No dia seguinte, 80 mil pessoas assistiram ao espetáculo musical “Grace for the World”, dirigido por Pharrell Williams e transmitido pela Disney+. Subiram ao palco artistas como Karol G, o duo Clipse, Teddy Swims e o astro do k-pop BamBam. Um show de 3.500 drones projetou sobre a basílica imagens da “Criação de Adão”, da “Pietà” e, aplaudido pelo público, o perfil de Francisco.
Legado ainda presente
Mesmo após a morte de Francisco, em abril, a imagem do papa argentino segue onipresente nas lojas de artigos religiosos e nas procissões do Ano Santo. No interior do Vaticano, uma vitrine exibe camisas de futebol autografadas que pertenceram ao antecessor, evidenciando o desafio de Leão 14 para sair da sombra do líder que modernizou a Igreja durante 12 anos.

Imagem: Internet
Primeiros atos
Entre as decisões iniciais, Leão 14 canonizou Carlo Acutis, de 15 anos, conhecido como “santo millennial” por usar a internet para divulgar milagres eucarísticos. Internamente, prometeu manter diretrizes de Francisco sobre acolhimento de católicos gays, debate sobre ordenação de mulheres e o acordo com a China para nomeação de bispos, mas advertiu que não pretende alterar profundamente a doutrina.
Desafios demográficos e financeiros
A Igreja enfrenta queda de fiéis em regiões estratégicas. No Brasil, o Censo 2022 mostrou recuo de católicos de 65,1% para 56,7% em doze anos, enquanto evangélicos já somam 26,9%. Nos Estados Unidos, 58% dos católicos têm 50 anos ou mais, segundo pesquisa do Pew Research Institute. Ao mesmo tempo, o Vaticano registra déficit orçamentário de € 83 milhões e problemas em seu fundo de pensão.
Com 70 anos recém-completados em 14 de setembro, Leão 14 é o papa mais jovem desde João Paulo 2º. Ele deve detalhar suas primeiras iniciativas e anunciar a primeira viagem internacional nas próximas semanas, passos aguardados para definir os contornos de um pontificado que se inicia sob forte comparação com o carisma de seu antecessor.
Com informações de Folha de S.Paulo







