WASHINGTON – Centenas de milhares de norte-americanos que concluíram recentemente a faculdade com diploma em ciência da computação continuam sem conseguir emprego, mesmo após o Federal Reserve ter iniciado um ciclo de redução de juros no mês passado e prever novo corte nos próximos dias.
Empresas de quase todos os setores, incluindo o de tecnologia, frearam contratações em 2025, temendo investir enquanto não entendem todos os efeitos das políticas econômicas do presidente Donald Trump. Juro mais baixo tende a estimular a expansão de quadros, mas não resolve a incerteza em torno de custos futuros nem o impacto estrutural da inteligência artificial sobre vagas de entrada no setor.
IA pressiona postos iniciais
Durante evento em 15 de outubro em Arlington, Virgínia, o diretor do Fed Christopher Waller afirmou que demissões e cortes em planos de contratação devem aumentar “especialmente para trabalhadores com diploma universitário” à medida que o uso de IA se intensifica. “Para os formuladores de política, precisamos deixar a disrupção ocorrer e confiar que, no longo prazo, os benefícios superarão os custos de curto prazo”, disse.
Economistas alertam para um mismatch: há oferta elevada de recém-formados, mas demanda insatisfatória. “O mercado de trabalho está travado porque as empresas têm dificuldade em tomar decisão”, afirmou Laura Ullrich, economista do Indeed, à CNN. Dados da plataforma mostram que anúncios de vagas em tecnologia e matemática caíram 35% no início de outubro ante fevereiro de 2020, com queda acentuada para desenvolvedores e designers, enquanto posições ligadas a IA e centros de dados dispararam.
Tarifas mantêm incerteza
A tensão comercial eleva o clima de cautela. Em março, Trump instituiu as tarifas do “Dia da Libertação”. Desde então, o governo fechou alguns acordos, mas a disputa permanece. Na quinta-feira, a Casa Branca cancelou negociações com o Canadá após a província de Ontário veicular anúncio contra tarifas. O presidente também criticou a China por restringir exportações de terras raras e abriu investigação sobre o cumprimento de um pacto comercial de 2019, tema que deve surgir no encontro com Xi Jinping na Coreia do Sul.
“Todos percebem que tarifas substanciais vieram para ficar e precisamos navegar por isso”, disse Rich Lesser, presidente global do Boston Consulting Group, em análise de resultados do terceiro trimestre.
Cenário corporativo mais cauteloso
Pesquisa do Conference Board com 130 CEOs, divulgada em 16 de outubro, apontou virada de “neutra” para “pessimista” na expectativa para a economia nos próximos seis meses; 68% pretendem manter ou reduzir o quadro de funcionários. Outro levantamento da entidade indica que a maioria dos executivos acredita que a IA transformará mais de 50% dos cargos de suas empresas em até cinco anos.
Imagem: Bryan Mena
Para o economista David Seif, do Nomura, o problema é de oferta: “Temos muitos graduados novos em ciência da computação, mas não demanda suficiente por trabalhadores de nível inicial”. A Oxford Economics vê “deslocamento desproporcional” de ocupações em computação e ciências matemáticas pela automação, segundo relatório assinado pelo economista Matthew Martin.
Estudo do Google de setembro mostrou que 90% dos profissionais de tecnologia já utilizam IA no trabalho. Recém-formados sentem a competição direta com algoritmos. “Parece que estou disputando a vaga com a própria IA”, disse Abraham Rubio, que concluiu ciência da computação e programação de jogos na Bloomfield College of Montclair State University, em Nova Jersey.
Embora o Fed planeje mais cortes até 2026 para estimular a demanda, o próprio banco central reconhece que juros menores não corrigem problemas do lado da oferta nem dissipam o clima de incerteza comercial que hoje domina planos de contratação.
Com informações de CNN Business
